A maioria das pessoas não consegue poupar dinheiro e provavelmente isso também acontece com você. Mas você já se perguntou o porquê disso acontecer?
Geralmente colocamos a culpa em algo que está fora do nosso controle. A justificativa mais comum “é porque não ganhamos o suficiente”, e por isso gastamos todo dinheiro que recebemos. Essa justificativa, na verdade, não está correta pois a capacidade de poupança depende principalmente dos gastos, e não dos rendimentos. Na verdade o estilo de vida é o maior responsável pelos nossos gastos. Quando adequamos nosso estilo de vida aos nossos rendimentos, gastando menos dos que recebemos, conseguimos poupar.
Se a poupança dependesse exclusivamente de quanto as pessoas ganham, os países com renda per capita inferior a do Brasil deveriam ter poupança menor, mas isso não ocorre de fato. Em alguns países a poupança está mais relacionada com aspectos culturais do que com a riqueza do país. A Bolívia, por exemplo, tem renda per capita inferior a do Brasil, com taxa de poupança de 30% do PIB (enquanto a do Brasil gira em torno de 15%).
O crescimento da educação financeira e da economia comportamental trouxe outras explicações. Fomos criados para gastar o dinheiro, e não para poupar ou investir. E isso está relacionado com nossa evolução da pré-história até os dias atuais. Na pré-história, quando ainda dependíamos da caça, a sobrevivência no futuro era incerta. Não havia garantia que conseguiríamos caçar nos dias seguintes, então tínhamos que aproveitar o máximo da caça daquele dia e, se possível, estocar o máximo de energia que pudéssemos. E assim evoluiu nosso cérebro até os dias atuais.
Nossos instintos de recompensa imediata entendem que precisamos satisfazer nossas necessidades "hoje", consumir e armazenar o que pudermos em função da incerteza do futuro. O problema é que nossas necessidades são ilimitadas, mas nossos recursos não. Então quase nunca sempre sobra dinheiro para poupar ou investir pensando no futuro.
Nosso cérebro não foi programado para pensar no "amanhã". Nossa grande dificuldade é que a poupança é justamente deixar de consumir hoje para consumir algo melhor no futuro. Então entramos em conflito e, inconscientemente, tomamos decisões influenciadas por nossos instintos.
Peter Drucker costumava dizer que “a melhor maneira de prever o futuro é criá-lo”. Então, se quisermos um futuro melhor precisamos saber lidar com nossas emoções, com nossa racionalidade limitada e com os vieses comportamentais.
A primeira mudança que devemos fazer é com relação aos nossos rendimentos (salários, mesada, aluguéis, rendas diversas). Assim que recebemos o salário pagamos nossas despesas e, com o restante do dinheiro, passamos o mês gastando com entretenimento e consumo pessoal. Se eventualmente sobrar algum dinheiro, pensamos em poupar. Esse hábito segue a lógica da maioria das pessoas (Rendimento - Despesas = Poupança). O problema é que quando sobra algum dinheiro, geralmente nos presenteamos com pequenos prazeres cotidianos, e isso é muito difícil de evitar.
Se quisermos poupar e fazer nosso dinheiro trabalhar por nós, devemos fazer uma pequena mudança. Quando recebemos nossos rendimentos devemos imediatamente separar o dinheiro para o futuro (poupança ou investimento) e só depois pagar as despesas atuais. Se eventualmente sobrar dinheiro depois disso podemos pensar em gastar com entretenimento ou assumir novos compromissos financeiros. Se fizermos isso, garantiremos o dinheiro para o futuro (Rendimento - Poupança = Despesas).
Mudar não é fácil e exige muito esforço, ainda mais quando nosso cérebro se desenvolveu de uma forma contrária ao que deveríamos seguir. Para conseguir mudar é preciso dedicação e conhecimento em educação financeira e economia comportamental.
No Brasil não temos educação financeira no currículo escolar, então o conhecimento fica muito limitado a quem se interessa pelo tema e busca aprender por fontes alternativas. Além disso, por envolver matemática, números e cálculos, a educação financeira já sofre rejeição natural.
Ainda assim vale a pena esse esforço para garantir uma vida melhor no futuro. Além de poupar também é importante gastar melhor e investir adequadamente.
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